Velha crônica

 



Passageira assídua dos “Uber” de Palmas, gosto de conversar com os motoristas.

Incrível quantos assuntos surgem nessas minhas idas e vindas, nas inúmeras corridas, em que curto as lindas paisagens da nossa querida cidade.

Outro dia, o papo descontraído foi sobre o desaparecimento dos jornais da nossa vida moderna. Aí, lembrei-me de uma “velha crônica” que escrevi em 2019, antes da pandemia.

Voilà:

  “-Ninguém mais lê jornal”

Foi assim que Mariana, aquela menininha de 6 anos se expressou, ao escolher adesivos para colar no livro que eu lhe ofertara. Esse livro infantil, intitulado “Sweet Home”, apresenta, em cada página, o interior de uma casa, tipo sobradinho, com cômodos vazios. A diversão das crianças consiste em: - criarem móveis, com ajuda de moldes de plástico, postos à sua disposição. Depois, colocarem sobre eles adesivos especiais, para decorarem os ambientes como desejarem. Por fim, elas têm ainda a possibilidade de colar figurinhas de pessoas, que serão os moradores da casa.

A garotinha vibrava com tudo, enquanto procurava, no bloquinho de adesivos, uma “personagenzinha” que estivesse sentada, para colocá-la no sofá que desenhara.

Não é que ela achou! Um homenzinho com os braços abertos, segurando um jornal! 

Só um!  Prontinho para ocupar aquele lugar confortável, num lindo sofá colorido.

Muito feliz, ela exclamou:

 “- Que sorte! Achei ainda um homenzinho que lê jornal!” E acrescentou:

 “- Ninguém mais lê jornal hoje, não é D. Stella? Todo mundo só “lê” celular!”

Pois é, Mariana, sua observação perspicaz me fez viajar...

Lembrei-me de um acontecimento que presenciei no aeroporto de Brasília, antes de tomarmos o avião para a Suíça.

Enquanto esperávamos a hora do nosso voo, dirigi-me a um quiosque para comprar um livro. Junto à vendedora havia uma senhorinha humilde, com roupas simples. Em pé, essa idosa, com os braços abertos, segurava com ambas as mãos, um jornal quase maior do que ela e lia algumas notícias, em voz bem alta. 

Não havia público, mas ela continuava a leitura, sem pestanejar.

A moça ao lado nem lhe dava muita atenção. Logo que a velhinha saiu, a jovem me contou que diariamente, era o mesmo ritual, aquela senhorinha praticamente fazia parte do cenário do aeroporto. O dia inteiro ficava por lá, andando de um lado para outro, dirigindo-se às pessoas que passavam, às que estavam sentadas. No entanto, do que ela mais gostava era ler em voz bem alta os jornais, naquele quiosque!

Pois é, ficou na minha lembrança aquela senescente, magrinha, vestida de cinza...

Ela era “alguém que lia jornal!”

Pessoas anônimas, simples, de diferentes idades, sempre chamam minha atenção. Coloco-as na minha “morada da memória”, sentadinhas na sala ou, como quadros, nas paredes. 

Depois, com essas imagens únicas, trazidas de viagens, de passeios, colhidas no meu dia a dia, componho “cartões postais”, que eventualmente mostrarei aos amigos.

Suponho que “alguém” as descobrirá, através dos meus escritos singelos. Então, lendo-os em voz baixa, numa telinha de celular, de computador e, com criatividade, montará seu videozinho pessoal.







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