O Evangelho da Paçoca

 



Peguei o ônibus para Taquaralto cedo. Ali pelas nove da manhã.

O evangelho da paçoca começou logo aos primeiros suspiros da viagem. Levantou-se em nome de algum deus, um pateta pastor reverberando o nome desse deus a todo momento. E ligou uma pequena caixa de som com músicas evangélicas e tirou um violão da cartola e cantou hinos carregados de um melo dramatismo pesado. 

Após a cantoria, que tomou todo o ambiente do ônibus e toda a paciência dos passageiros, anunciou que numa dessas viagens de pregação, realizadas nos ônibus, havia curado uma mulher cancerosa.

Ela recebeu a graça através de sua oração durante o trajeto Palmas – Taquaralto. Depois rezou um pai nosso e uma ave maria e bradou aleluia repetidamente. Ao final da pregação – e ninguém podia escapar dela, senão agredindo o pastor, leu mal um trecho ruim do velho testamento. Concluindo a parábola, afirmou que para sobreviver precisava da ajuda de todos comprando seus sacos de paçoquinhas.

Pensei nas empresas de rede e coachs que os evangélicos estão criando. Escolas de alienados. As técnicas, roubadas à psicanálise, estão servindo a doutrinação religiosa com a ideologia da prosperidade. 

Essas empresas de rede escravizam consumidores crentes, crentes(?) que com o dinheiro de seu consumo estão colaborando com ideais nobres como a distribuição de renda e de cestas básicas. 

Dízimo de consumo e formação de uma horda de tarados por dinheiro.

É o evangelho da paçoca que se estende agora pelo antes calmo e civilizado trajeto dos ônibus na cidade de Palmas. O pastor das paçoquinhas disse ao descer do ônibus – eu não sou comerciante, sou um servo de deus.


 Aleluia!











Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alô, terráqueos, marcianos e outros tipos de sonhadores!

O CASO DA MOÇA COM AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA

Araras amadas