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Mostrando postagens de setembro, 2025

O MANGULÃO É NOSSO

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  Nunca vi ninguém reivindicando isso, por essa razão eu tomo logo a frente... O MANGULÃO É NOSSO. Sim. A partir de hoje se perguntarem para você tocantinense uma comida típica do seu estado diga: man-gu-lão. Você pode dizer galinhada, arroz com pequi, chambaril ou qualquer outra iguaria, mas inclua o mangulão.  Conheci o mangulão quando vim viver aqui no Tocantins em 2000. 26 anos de amor. Uma amiga da minha mãe fez duas formas de mangulão. Comi uma delas inteira. "Mas, mulher, como que tu deixou o Ciro comer um mangulão inteiro?!". "Coitado do bixim,  Laura, ele tava comendo tão satisfeito". Pois é. Foi amor à primeira dentada. Eu já adorava o primo próximo do mangulão que é o bolo de goma maranhense nas suas mais variadas versões, caroços e erva doce. Mas não é a mesma coisa. Assim como não é a mesma coisa que um pão de queijo gigante, como eu mesmo tento explicar quando falo do sabor e textura para quem não é iniciado no mangulão.  Há quem possa, a partir deste ...

Tá todo mundo diboas na república das tretas

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  Do troco minguado no supermercado você tem de escolher: o café barato ou o barato da schin. E toca a semana pensando no fim de semana para assar aquele cupim. No trampo é mais chique palpitar sobre a reascensão do intrépido Trump no império estelar do aparente e simulado american way of life. Enquanto a pinguela no seu bairro que te lembra que você tá é no quarto mundo, você introjeta. O desejo da tua mulher de sair da senzala da tua casa você comprou com uma prancha de fazer chapinha. E ela te lembra sempre que não foi uma boa coisa, quando você sai do banheiro todo molhado e quer se achegar. Você, então se arrepende. Mas é tarde, a alforria foi dada. De brega, você não tem mais nada. Conseguiu comprar um apartamento pelo Minha Casa Minha Vida. E as ondas internéticas você surfa no wi-fi que você tem. Até a música melhorou. Agora você só ouve sofrência. Corrupção você só veio saber que é a erva venenosa que mais dá e mais mata no Brasil em pleno Século XXI. Fruto da sua contempo...

URUBU QUE BEBIA CACHAÇA

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  A praça era antiga. A igreja, um pouco mais. Vila do Conde é uma ponta de terra enfiada no rio Pará. Portuária, no horizonte esmaecido do rio, a ilha de Marajó. Ali, embarcam bois aos milhares para os rincões do mundo nos navios que se atracam. Não só bois, mas também a bauxita, o caulim, o dendê. O rio não parece rio, parece mar. É preciso entrar nele para creditá-lo como rio de água doce. Ali banham seus ribeirinhos, na maré baixa. Ali se enfiam os navios vindos do mundo inteiro. Como em todo porto, abundam os detritos e os urubus que os faxinam. De modo que que, na vila, eles estão lá, centenariamente, como seus moradores tradicionais. Há cães aos montes. Há bêbados que fizeram da praça sua casa. E todos convivem numa existência que parece perenizada. Todo mundo conhece todo mundo. Virtudes e vícios são públicos e preenchem as conversas e as notícias. Não faltam os peixes como não faltam o açaí nem a mandioca dos tacacás e maniçobas. Também não falta a cachaça. Mas, entre os b...

ORA POMBOS

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  Sem muita disposição para ler o único livro que trago na mochila e tendo três horas de espera de ônibus em Imperatriz, fui me ocupar da observação de pombos.  Eu sei que deveria me ocupar de temas emergentes, como o da defesa da soberania nacional. Tenho medo de cochilar 10 minutos e acordar com notícia de golpe. Foi assim. Estava trabalhando longe do celular e perdi o momento exato em que o inelegível recebeu sua primeira tornozeleira. É impossível ficar atenta a tudo. Pisquei os olhos um dia desses e os EUA atacaram o Irã. Penso que posso segurar o tempo, inibir todo gesto, se não me distrair.  Não consigo falar do genocídio em Gaza. Nunca imaginei viver isso: genocídio ao vivo e gente imbecilizada enrolada em bandeira de Israel. Não consigo dizer, não consigo ver as imagens que chegam.  Covardemente, espio pombos. Uma dupla toma banho na água suja que corre ao lado da calçada. Felizes, voam e driblam o calor. Há um gordo. Bonito, com algumas penas azuladas....

CARTA

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  CARTA Cara, escrever rodando por estradas é como uma exigência da experiência que ulula, que grita. Estamos nessa trip já somam dois meses. Desde que saímos do Rio de Janeiro, no início do ano, muitas coisas surpreendentes e apaixonantes têm ocorrido. Mas vou dar um salto, vou pular São Paulo, Paraná e Santa Catarina só pra contar nossos últimos dias. Estamos em Osório, uma minúscula vila de pescadores no extremo norte do litoral do Rio Grande do Sul. A praia é do tamanho do Arpoador, aí do Rio. Ela tem ondas batidas e permanentes. Onda trepando em onda montando um mar marolado e sempre cheio. Não é legal pra pegar onda, pra surfar, mas é ótimo pra banhar. É fundo logo na beira, mas dá pé, formando um banco de areia depois da arrebentação, longo, contínuo, até a formação das ondas. Quem sabe morem duas mil pessoas nesse lugar. O sol é intenso e delicioso, temperado por um vento matutino voraz, agitando palmeiras e lançando areia nos casebres sem forro. A maioria das habitações na...