Vento inspirador



A chegada do vento aqui em Palmas me traz muitas recordações.

Lembro-me muito dele, com intensidade e nomes diferentes, nos diversos lugares por onde passei, por onde vivi.

Lembro-me dele na Bíblia, nas obras literárias lidas, em títulos de livros, filmes ou como “personagem” de romances famosos.

Lembro-me dele nas músicas e poemas que curti, desde a minha tenra infância.

Nesse emaranhado de recordações destaca-se aquela madrugada, há alguns anos, quando fui surpreendida pela impetuosidade e impressionante barulho do vento “tocantinense”. Parecia que o nosso prédio iria desabar ou simplesmente voar...

De manhã, ao me levantar, abri a janela e saí do quarto. O vento continuava bem forte, mas o sol amigo generoso, dissipara meus receios noturnos.

Quando voltei ao quarto, achei um pedacinho de papel, caído no chão, perto da janela. Não havia nada escrito nele, mas num cantinho, estavam as palavras “Pequeno Príncipe” e uma singela imagem do próprio. Via-se que o papel tinha sido cortado cuidadosamente com uma tesoura.

Pra quê?! Dei asas à minha imaginação! Viajei. Voei. Voltei a ser uma menina deslumbrada...

Várias questões aguçaram minha curiosidade, me empolgaram:

- fora talvez uma criança, um adolescente que tinha recortado aquela figurinha de um fichário escolar, no intuito de guardá-la.

- como é que esse papelzinho viera parar no décimo andar?

- será que estava no lixo do nosso prédio, no de uma casa vizinha ou do prédio ao lado? 

- por que voou justamente para dentro do nosso apartamento?

- será que simplesmente caiu de um andar superior ao nosso?

Então, senti-me como o piloto do avião ou os outros personagens do livro: cheios de perguntas, esperando as respostas inteligentes do Pequeno Príncipe. Obviamente elas não vieram.

Em contrapartida, como adulta, lembrei-me de tantas situações e citações conhecidas desse livro, que li também em outros idiomas, nas diferentes etapas da minha vida. Que delícia! 

Eis uma especial:

Toutes les grandes personnes ont d’abord été des enfants, mais peu d’entre elles s’en souviennent.” 

Assim começara aquele meu dia de ventania e com ele meus devaneios: como uma garota curiosa, queria desvendar um mistério.

Depois, guardei essa folhinha de papel na minha mesinha de cabeceira. Dali ela não iria voar... só se o Pequeno Príncipe viesse buscá-la pessoalmente!

Naquela ocasião pensara até em escrever uma historinha, nem que fosse meio bobinha e jogá-la no lixo depois. Ou talvez tentaria desenhar um carneirinho ou uma caixa para ele. 

Tarefas muito difíceis... que nunca realizei.

Só agora, no período em que os ventos estão voltando, inspirei-me para contar, de maneira singela, essa viagem misteriosa daquele papelzinho, que tanto me intrigara.

Voilà, Monsieur Saint-Exupéry...

Parece que pertenço ao grupo restrito das “grandes personnes” que muitas vezes, diante de um simples papelzinho, de uma leve brisa ou de uma forte rajada se comportam como uma criança feliz.




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