Araras amadas

 


Que o Tocantins é lindo, todos sabemos! Nós, privilegiados, que aqui moramos, não perdemos nenhuma oportunidade de cantarmos suas belezas. Isto é uma prova de amor!

O que dizer sobre as araras que cruzam o nosso céu, deixando-nos embevecidos, admirando seus voos? Sempre aos pares, tagarelando.

Ao vê-las diariamente, dou asas à minha imaginação que me faz mergulhar nas incontáveis lembranças que venho colecionando ao longo dos meus anos. Dentre essas recordações, há algumas, em que as araras estiveram presentes na minha história.

Quando tinha dezoito anos, como professora primária recém-formada, fui lecionar no sítio Bairro do Macuco, perto de Assis, minha cidade natal, no Estado de São Paulo. 

Lá, na humilde casa onde me hospedava havia uma arara vermelha. Coitada: ela não voava, só pulava ou andava. A dona da casa me dissera que alguém tinha cortado as asas da arara para que ela não fugisse. 

Era linda aquela arara, mas não gostava de mim.

Cada vez que me via, corria na minha direção, quase tropeçando, afoita, para me atacar. Nunca entendi aquela tamanha aversão por uma professorinha inofensiva.

Será que ela queria me expulsar daquele sítio? Será que me culpava por não poder voar? Talvez ela fosse contra o meu trabalho, pois eu, com todo o meu “saber” nunca iria conseguir lhe dar asas... Tinha muita pena dela, tão linda e tão infeliz.

Mais tarde, morando na Suíça, quando meu marido e eu visitávamos o Zoológico de Zurique, com nossas filhas pequenas, sempre permanecíamos um bom tempo, em frente ao viveiro, onde havia araras azuis, empoleiradas em alguns galhos. Elas nos olhavam desconfiadas. 

Para Caroline e Nathalie, nossas filhas felizes e curiosas, eu inventava alguma historinha sobre as araras. Contava-lhes que aquelas lindas araras, cujas penas azuis, amarelas, lembravam a bandeira brasileira, eram originárias do meu país; tinham voado até a Suíça para levarem um pouco de sol e alegria para as crianças de lá.

Acrescentava ainda que eu era capaz de me comunicar com elas, que até poderíamos bater um papinho com as aves brasileiras. Então, no meu mundo do faz de conta, eu olhava séria para as araras, e falava bem alto:

 - Arara!

 Curioso...no mesmo instante, as araras se aproximavam de nós e repetiam:

- Arara!

Os olhos das meninas brilhavam e o entusiasmo delas chamava a atenção das outras pessoas que se aglomeravam atrás de nós para me “verem conversar” com minhas patrícias aladas.

Era muito divertido, porque as crianças acreditavam firmemente que as araras me entendiam, que realmente me contavam alguma coisa interessante sobre o Brasil.

Bem mais tarde, vindo morar no Tocantins, nos familiarizamos com um casal de araras canindé, que apareceu, de repente, na nossa chácara em Divinópolis.

Era uma alegria vermos que ambas não tinham as asas cortadas, voavam livremente perto de nós, sem nenhuma aversão. Gostavam de ficar bem juntinhas, instaladas em cima de um pedaço de pau, caído no chão.

André as fotografou e as imortalizou numa belíssima aquarela pintada por ele. 

Então, eu já não precisava mais conversar com elas. Admirava seus voos entre mangueiras, buritis e outras árvores. Junto ao verde exuberante das árvores, elas completavam as cores da nossa bandeira brasileira. A liberdade e a nossa companhia, a brincadeira dos nossos netos eram muito apreciadas por elas.

Nós também desfrutávamos dessa sensação de paz: tranquilos, livres, gozando do aconchego familiar, cercados da pujante natureza.

Pensando bem... esse casal de araras, lá da nossa chácara Buritis, simbolizava um pouco a nossa vida: viemos de longe, lá da Suíça, para desfrutarmos dessa bênção que é morar aqui no Tocantins. Isso é amor!






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