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Mostrando postagens de junho, 2025

Vento inspirador

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A chegada do vento aqui em Palmas me traz muitas recordações. Lembro-me muito dele, com intensidade e nomes diferentes, nos diversos lugares por onde passei, por onde vivi. Lembro-me dele na Bíblia, nas obras literárias lidas, em títulos de livros, filmes ou como “personagem” de romances famosos. Lembro-me dele nas músicas e poemas que curti, desde a minha tenra infância. Nesse emaranhado de recordações destaca-se aquela madrugada, há alguns anos, quando fui surpreendida pela impetuosidade e impressionante barulho do vento “tocantinense”. Parecia que o nosso prédio iria desabar ou simplesmente voar... De manhã, ao me levantar, abri a janela e saí do quarto. O vento continuava bem forte, mas o sol amigo generoso, dissipara meus receios noturnos. Quando voltei ao quarto, achei um pedacinho de papel, caído no chão, perto da janela. Não havia nada escrito nele, mas num cantinho, estavam as palavras “Pequeno Príncipe” e uma singela imagem do próprio. Via-se que o papel tinha sido cortado cu...

O FIM DO MUNDO

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A mãe anunciava diariamente como mantra para buscar a conversão da filha: o fim do mundo está próximo. Jesus está voltando. A filha pensava na vagarosa caminhada que Jesus fazia, demorando-se desgostoso. Os que se diziam cristãos defendiam posse de armas, criminalizavam crianças violentadas que demandassem urgência de aborto, votavam pelo PL da devastação e contra a isenção de IR para os mais pobres... Deus já ordenara: vai, filho. São as profecias. Maria entendia sua relutância. Já vou. Já vou. Pôs as sandálias e partiu a pé do ponto mais longínquo da esfera celeste. Iria meditando, como os peregrinos de Santiago de Compostela, parando aqui e ali... A Bíblia fala na besta do Apocalipse. A filha, aderindo à pregação da mãe, buscava identificá-la: era Trump, sem dúvida, munido de mísseis, ódio, intolerância, preconceito e controle dos algoritmos. O que não estava nas sagradas escrituras é que a besta se multiplica em muitas cabeças e, como toda saga, Israel estava dentro. Como um f...

Quando a crônica não vem

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  Quando a crônica não veHá dias tento escrever uma crônica para o projeto Cronistas do Sol, pra não dizer, meses. Mas sempre alguma coisa encasquetava minha cuca e eu travava. Nada de prosa catada ao rés do chão, por enquanto, me soprava um dos meus guias.  Excesso de (des)informação, fake news, tudo acontecendo ao mesmo tempo, política, cultura, sociedade, cultura inútil e outros temas pululando nas redes sociais na internet, essa cornucópia digital de Deus e do Diabo. A princípio, iria escrever sobre os comentários acerca de algum assunto apimentado postado interneticamente. Primeiro, veio o tino de dibuiar sobre uma postagem no Facebook em que uma mulher decretava: “Aceitei a solicitação, mas não precisava vim (sic) agradecer no messenger não (sic)”. Claro, a sobremesa seriam os comentários. E, nestes, fica evidente o quanto a empatia e resiliência são artigos raros nas telas de Narciso 5.0. interpretação de texto- isso quase ninguém saiba mais o que seja. Segundo pesquisa...

A ORELHA DE BELÉM

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Meu tio paterno caçula chegou de Belém. Meu pai recebeu-o como a um filho pródigo, os olhos verdes brilhantes revelavam o carinho que tinha pelo irmão mais moço deixado sob seus cuidados anos antes pelo meu avô Joãozinho numa viagem do agreste pernambucano a Carolina em visita ao mais velho dos filhos. Para os sobrinhos, recebíamos um herói. E tudo porque nos dias anteriores a sua chegada ouvíamos pelos cantos da casa fiapos de conversas segredadas entre meus pais, revelando lances cinematográficos da vida atribulada dele na capital paraense onde era radiotelegrafista de uma empresa aérea. Os telegramas dando conta de sua volta mudaram o clima em casa. Meus pais tornaram-se pressurosos, embora nada dissessem aos filhos além da frase que lhes abria um sorriso forçado: ‘seu tio vai chegar’. A solicitação de maiores detalhes transformava ligeiro o difícil sorriso em careta apreensiva que antecipava a negativa: ‘Só isso basta’.  Especialmente para mim, pelos cochichos e pela tensão que...

O Evangelho da Paçoca

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  Peguei o ônibus para Taquaralto cedo. Ali pelas nove da manhã. O evangelho da paçoca começou logo aos primeiros suspiros da viagem. Levantou-se em nome de algum deus, um pateta pastor reverberando o nome desse deus a todo momento. E ligou uma pequena caixa de som com músicas evangélicas e tirou um violão da cartola e cantou hinos carregados de um melo dramatismo pesado.  Após a cantoria, que tomou todo o ambiente do ônibus e toda a paciência dos passageiros, anunciou que numa dessas viagens de pregação, realizadas nos ônibus, havia curado uma mulher cancerosa. Ela recebeu a graça através de sua oração durante o trajeto Palmas – Taquaralto. Depois rezou um pai nosso e uma ave maria e bradou aleluia repetidamente. Ao final da pregação – e ninguém podia escapar dela, senão agredindo o pastor, leu mal um trecho ruim do velho testamento. Concluindo a parábola, afirmou que para sobreviver precisava da ajuda de todos comprando seus sacos de paçoquinhas. Pensei nas empresas de rede ...