Quando a crônica não vem

 



Quando a crônica não veHá dias tento escrever uma crônica para o projeto Cronistas do Sol, pra não dizer, meses. Mas sempre alguma coisa encasquetava minha cuca e eu travava. Nada de prosa catada ao rés do chão, por enquanto, me soprava um dos meus guias. 

Excesso de (des)informação, fake news, tudo acontecendo ao mesmo tempo, política, cultura, sociedade, cultura inútil e outros temas pululando nas redes sociais na internet, essa cornucópia digital de Deus e do Diabo.

A princípio, iria escrever sobre os comentários acerca de algum assunto apimentado postado interneticamente. Primeiro, veio o tino de dibuiar sobre uma postagem no Facebook em que uma mulher decretava: “Aceitei a solicitação, mas não precisava vim (sic) agradecer no messenger não (sic)”. Claro, a sobremesa seriam os comentários. E, nestes, fica evidente o quanto a empatia e resiliência são artigos raros nas telas de Narciso 5.0. interpretação de texto- isso quase ninguém saiba mais o que seja. Segundo pesquisa do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) no ano passado, três em cada dez brasileiros apresentam dificuldades para a resolução de problemas simples do cotidiano, usando textos e números. O levantamento aponta que 29% dos brasileiros entre 15 e 64 anos estão nessa condição.

Depois, o barulho – também na internet – acerca da possível cassação do prefeito atual de Palmas, capital do Tocantins, na 9ª fase da operação Sisamnes, que apura a venda de decisões em judiciários estaduais e no Superior Tribunal de Justiça, bem como o vazamento de informações sigilosas sobre investigações. Coitada da Sereia do Cerrado. 

E, seguindo no campo da política, ainda fagulhas de outra operação, chamada de Fames-19 e que está no pé do atual governador. O barulho que grassa é que este será mais um que não irá concluir seu mandato. No estado caçula da União, parece que o Monstro da Corrupção já veio com o ovo da serpente na sua gestação. Deus tenha pena de nós. É só lembrar que nos seus 37 anos, o Tocantins teve mandatário cassado duas vezes e um histórico de cassações, renúncia e prisões e até impeachment. Tocantinense é bicho forte. 

Em seguida, os burburinhos sobre o bebê reborn. Gente, socorro! Tá (quase) todo mundo louco. Aproveito para citar criação de secretaria municipal de bem-estar animal em Palmas, enquanto tanta gente ainda passa fome na capital e nesse país. E olha que sou amante de bichos. Temos dois gatos – a Pantera e o Oliver, e uma cachorra – a Estrela. Mas criar uma secretaria para cuidar de bichos, para mim, isso não é legal. Um departamento numa secretaria bastava. Há outras urgências. É a velha história: o Brasil é um dos países que têm as leis mais avançadas, mas, de que adianta, se os problemas continuam sendo os de terceiro mundo. Quem há de nos salvar dessa loucura globalizante?

E sobre a questão cultural em que um artista para conseguir aprovar um projeto em edital, exige-se tantas coisas num martírio insano – falta pedir a digital da alma do agente cultural – enquanto na cena da música sertaneja (sic) duplas conseguem de 500 mil a mais de 1 milhão de reais por apenas um show na maior maciota. Vê-se que a questão é política, essa do verdadeiro artista brasileiro ter de se humilhar para conseguir alguma vitória na sua trajetória. Enquanto a citada música é bancada pelo agronegócio, este que possui uma renúncia fiscal de 158 bilhões. Alguém está pagando essa conta faz tempo e bancando um legislativo em que a maioria, ou seja, a que aprova as matérias, são empresários e pecuaristas. E ainda tem gente falando em meritocracia nesse país.

Depois de vomitar tudo isso aqui foi que fui perceber por que a crônica não vinha. Ela não vinha porque estou atolado de coisas inúteis, vãs e más, cercado de alienados, fascistas, pseudorreligiosos e quase-artistas.  Sim, porque com a internet todo mundo virou médico, poeta, designer e artista.

Resta-me buscar a palavra certa para libertar o verso. Enquanto a loucura não vem.






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