O FIM DO MUNDO




A mãe anunciava diariamente como mantra para buscar a conversão da filha: o fim do mundo está próximo. Jesus está voltando. A filha pensava na vagarosa caminhada que Jesus fazia, demorando-se desgostoso.

Os que se diziam cristãos defendiam posse de armas, criminalizavam crianças violentadas que demandassem urgência de aborto, votavam pelo PL da devastação e contra a isenção de IR para os mais pobres...

Deus já ordenara: vai, filho. São as profecias. Maria entendia sua relutância. Já vou. Já vou. Pôs as sandálias e partiu a pé do ponto mais longínquo da esfera celeste. Iria meditando, como os peregrinos de Santiago de Compostela, parando aqui e ali...

A Bíblia fala na besta do Apocalipse. A filha, aderindo à pregação da mãe, buscava identificá-la: era Trump, sem dúvida, munido de mísseis, ódio, intolerância, preconceito e controle dos algoritmos. O que não estava nas sagradas escrituras é que a besta se multiplica em muitas cabeças e, como toda saga, Israel estava dentro. Como um fim apocalíptico sem uma besta na terra santa? 

Eis que o povo de lá elegeu a sua: Netanyahu. 

Outras cabeças estão em países não contemplados pelas sagradas escrituras. Conta-se que sujeitos no papel de cabecinhas abestalhadas se escondem como ratos em bunker. Pouco viris e nada corajosos pedem socorro a Lula, que paciente faz sua oração de domingo: ora vem, Senhor Jesus. Antes que o centrão destrua tudo.





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