QUANDO CHOVE SOBRE O CERRADO

Filho desse cerrado agreste, herdeiro de um sol implacável e generoso. Nos olhos e no paladar vivencio outra sorte de estação quando chega esse tempinho de chuva. Na memória afetiva e no diário de leituras faiscam lembranças recorrentes. Recordo quando corri os olhos sobre o romance "Chove sobre minha infância", de Miguel Sanches Neto. Durante a leitura, o autor me fez resgatar mais um embornal de recordações dos dias de chuva, quando de minha infância sertaneja: “Chovia demais naquela manhã, uma chuva que molhava o piso de vermelhão da varanda da casa onde morávamos... A chuva alagando o território onde aquele que fui brincava de escorregar no piso.” Tempos depois, vi o filme "Está chovendo sobre Santiago", fiquei me perguntando sobre o sentido do título e refletindo acerca dos desdobramentos do golpe de estado chileno, uma longa e pesada noite iniciada no ano de 1973. No anúncio das primeiras chuvas do ano, renova-se a expectativa de sempre: tempo do pequi, burit...