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Mostrando postagens de julho, 2025

Nós na Praça

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  Um passeio de fim de tarde, uma caminhada, encontros, namorados no banquinho, crianças no parquinho ou aprendendo a se equilibrar na bicicleta, idosos jogando cartas, cachorro fazendo xixi , jardins secos ou floridos. Sem saber, todos estamos conectados na urbe. Da antiguidade até aqui, em qualquer lugar do mundo existe uma praça. Dizem que as praças públicas surgiram na Grécia e que tinham a função de reunir as pessoas para debater sobre os assuntos da pólis. Além disso, eram utilizadas como forma de transmitir cultura e conhecimento, bem como para expor ideias e tomar decisões. Na Idade Média, as praças passaram a ser voltadas para a realização de comércio, execuções e outros ritos religiosos.   No período Barroco e Renascentista, elas ganharam espaços voltados à vegetação, artes, contemplação e descanso, com um conceito mais estético.   A primeira praça no Brasil foi criada em 1549, em Salvador na Bahia, e foi nomeada Praça Tomé de Souza, mas ficou conhecid...

CASEARA

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  O carro quebrou. A cidade de Caseara, próxima ao Rio Araguaia, há menos de quarenta quilômetros. A estrada de terra, lotada de buracos e pedras parecia com a pista de um jogo de obstáculos. Passamos, em velocidade atrevida, para o tipo de terreno, por um previsível buraco. O buraco era previsível, mas seu tamanho e extensão escaparam a nossos cálculos. Era uma cratera lunar, ou o marco de pouso de alguma nave espacial. O carro alçou vôo por uns cinco ou seis metros depois de topar com a barranca da fenda. Na aterrisagem, os amortecedores foram insuficientes para o impacto. O fundo do carro bateu com força no chão, e nós, batemos as cabeças no teto. Entre mortos e feridos, sobrevivemos todos, menos a caixa de câmbio, que ficou dependurada como um cacho de ferro velho, balangando de maneira patética. Seria uma longa noite. A uma das margens da estrada, se é que se pode nomear aquilo como estrada, um pasto infinito, que agora, pós o barulho do acidente, chamara a atenção de uma enor...

CHICO 81

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  Não sou do tipo que cultua personalidades, adota herói (ou bandido), mas tem uns caras que não tem como não reconhecer o brilho, a beleza, a imensidão. Um desses é o Chico Buarque de Holanda, que hoje, 19 de junho de 2025 completa 81 anos de vida e pelo menos 50 anos na (minha) vida. Se somarmos todos os anos de vida que ele preencheu e preenche junto aos milhões de fãs, já virou imortal. Ou quase. Pois foi esse cara que começou o encantamento do brasileiro com a canção singela A BANDA ao ganhar o II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966. Também nesse ano lançou Quem te viu, quem te vê. A partir daí, foi brincando, com as palavras, conceitos, pontos de vista, focos teatrais (tive o prazer de assistir a peça Gota d’Água, que ele escreveu com Paulo Pontes, em 1975) e brincadeiras com Os Saltimbancos, mostrando a imensa sensibilidade ao tratar com o público infantil. Ao conquistar o público infantil, fechou o círculo de admiradores, pois todos os outros já haviam sido encan...

Essa tal vida

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  É um circo irado, deduzi. Tudo nele é inquietante em vez de agradável. Do drama à comédia, passando pelo rigorosamente hilário, soava-me estranho. Eu estava na plateia, mas me sentia membro ativo daquele espetáculo, e vi entristecido que todo mundo a minha volta sorria às gargalhadas até mesmo quando a caricatura de palhaço vestido de terno com cores berrantes, cartola multicolorida e sapatões pontiagudos com que chutava o traseiro das pessoas estafadas por tarefas repetitivas, entrou no palco. Um imenso palco, tão vasto quanto um país, quiçá o mundo. E eu, amargurado, pensei, porque aquilo beirava o absurdo –, é sonho ou realidade? Como se adivinhasse meu pensamento, o palhaço apontou o dedo para a plateia, e pareceu escolher-me como alvo entre os milhões ali presentes – sim, eram milhões –, mirando minha cabeça como um policial com sua arma contra preto e pobre em batidas na favela, e disse num misto de irritação e riso: “escrotos como você prejudicam o riso e o mundo. Bons são...