CHICO 81
Não sou do tipo que cultua personalidades, adota herói (ou bandido), mas tem uns caras que não tem como não reconhecer o brilho, a beleza, a imensidão. Um desses é o Chico Buarque de Holanda, que hoje, 19 de junho de 2025 completa 81 anos de vida e pelo menos 50 anos na (minha) vida. Se somarmos todos os anos de vida que ele preencheu e preenche junto aos milhões de fãs, já virou imortal. Ou quase.
Pois foi esse cara que começou o encantamento do brasileiro com a canção singela A BANDA ao ganhar o II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966. Também nesse ano lançou Quem te viu, quem te vê.
A partir daí, foi brincando, com as palavras, conceitos, pontos de vista, focos teatrais (tive o prazer de assistir a peça Gota d’Água, que ele escreveu com Paulo Pontes, em 1975) e brincadeiras com Os Saltimbancos, mostrando a imensa sensibilidade ao tratar com o público infantil.
Ao conquistar o público infantil, fechou o círculo de admiradores, pois todos os outros já haviam sido encantados. Nos entremeios, cantou a traição (A Rita levou meu sorriso / no sorriso dela / meu assunto…).
E cantou e brincou com A Rosa, fazendo diabruras com palavras e conceitos: A Rosa garante que é sempre minha / Quietinha, saiu pra comprar cigarro / Que sarro, trouxe umas coisas do Norte / Que sorte / Que sorte, voltou toda sorridente.
Criticou os costumes e a moral hipócrita com A Ópera do Malandro, como podemos conferir em Homenagem ao malandro: Agora já não é normal /O que dá de malandro regular, profissional / Malandro com aparato de malandro oficial / Malandro candidato a malandro federal / Malandro com retrato na coluna social / Malandro com contrato, com gravata e capital / Que nunca se dá mal.
Também bateu pesado, sempre com palavras quase inocentes, na ditadura, no regime, nos governos dos anos de chumbo, como em Apesar de você: Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / Eu pergunto a você / Onde vai se esconder / Da enorme euforia / Como vai proibir / Quando o galo insistir / Em cantar / Água nova brotando / E a gente se amando / Sem parar/. Ou ainda, com a canção Chame um ladrão, em que escancara o terror policialesco sobre a população, como também no Hino da repressão: Se no teu distrito / tem farta sessão / De afogamento, chicote / Garrote e punção / A lei tem caprichos / O que hoje é banal / Um dia vai dar no jornal.
Contudo, o lírico percorre o itinerário de sua produção, como podemos ouvir em Joana Francesa, onde Chico pratica um libidinoso ato de amor entre a língua portuguesa e a francesa, ambas a gemer de amor…
Sempre genial, Chico Buarque nos brindou com uma joia de raríssimo feitio: Construção. Nessa canção ele trava, destrava, encaixa, desmascara conceitos, estruturas (da língua e da engenharia); eleva o operário a um místico sonhador, não tocado a drogas, mas a penúria e acaba por deixa-lo ao rés do chão, feito um pacote plástico… atrapalhando o sábado!
São centenas de canções que o gênio desse cara nos legou. Sempre canções engajadas, ainda que construídas com palavras inocentes. Aprendeu com os tempos da ditadura, quando era imperioso denunciar, mas vital saber codificar.
Neste 19 de junho de 2025, Chico Buarque de Holanda, felizmente do Brasil, completa 81 anos de idade e desde minha adolescência completa meu coração. Gratíssimo, Chico. Você faz parte de mim, portanto, também estou de parabéns! Viva eu, viva tu, viva o povo brasileiro, que não desiste nunca! A luta continua.

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