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Mostrando postagens de maio, 2025

VIVER RAPIDAMENTE

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  Vi um popular falando que a gente é meio que forçado a pensar mais rápido para agir mais rápido para responder mais rápido para ser entendido mais rápido para vencer mais rápido para (se) vender mais rápido para ser comprado mais rápido para chegar mais rápido (não me pergunte onde). Tudo tão rápido que, logicamente, essa velocidade toda nos leva a morrer mais rápido. Hoje eu tenho uma filha e vejo tudo isso jogado até mesmo nela que nem existia quando ouvi essa fala pela primeira vez. Querem que a criança caia o umbigo rápido, que acerte a mamada rápido, que passe a fase de cólica rápido, que endureça o pescoço rápido, que sente sozinha rápido, que engatinhe rápido, que comece a comer rápido, que comece a andar rápido, que comece falar rápido e por aí vai - até que saia de casa rápido (talvez aí um dia eu possa concordar). Aprendi com a Liz (minha filhota) que um bebê geralmente começa a andar entre 9 e 18 meses. Uma boa margem de tempo para maltratar pais ansiosos com o desenvo...

TRÊS APITOS

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Acompanha durante o dia as oscilações da Bolsa de Valores, desde que Trump e suas tresloucadas medidas econômicas entraram em cena. Amigos do partido compartilham, fazem especulações, analisam. Taxações contra importações. A guerra tarifária com a China. Dizem que agora ele lá quer mudar o presidente do Banco Central deles, derrubar as taxas de juros. Aqui, dia e noite defendem que os juros subam mais, reclamam do crescimento econômico, do PIB alto, da queda do desemprego. O economista mais endiabrado defendeu congelamento do salário-mínimo por 6 anos. Articulações de deputados vinculados aos vendilhões do templo ensaiam boicote ao projeto da eliminação de impostos a quem ganha míseros 5 mil reais. Querem proteger os que nunca pagam imposto, a despeito dos lucros milionários. Pobres de direita ensaiam fazer jejum pela cura de Judas, o traidor. Ela, desde sempre, entende muito pouco da bolsa. Lembra um dia, quando foi com a mãe, a tia e a avó visitarem uma comadre. A velha morava às mar...

NOVA ORDEM MUNDIAL

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  Abro meus noticiários da manhã e mais uma vez vejo o título desta crônica, o qual vem fustigando olhos e cérebros por todo o mundo. Os modos de abordagem são os mais diversos, desde citação dos “Illuminati” até “Conselho Intergalático”. Como esta crônica deve se pautar pela realidade, deixemos de lado o passado no iluminismo e o futuro para o pós contato imediato de vigésimo grau e cuidemos de observar o aqui e agora, tendo consciência de que o “aqui” se refere ao planeta Terra e o “agora” é um tempo onde os ciclos econômicos já não obedecem a produção de um ano ou seis meses na produção rural, mas se completam em milissegundos nos supercomputadores e seus mecanismos como a IA. Já por premissa básica, a tal nova ordem mundial é estribada nos dois fatores elencados acima: todos os fatos são mundiais e a percepção de realidade muda instantaneamente a cada milissegundo, ultrapassando a “modernidade líquida” com que nos brindou Bauman. A mudança em nossa  realidade já não se dá ...

MEU TIO DE SÃO PAULO

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  O alvoroço tomou conta da casa de meu avô no verão de 1966. Havia dois dias que chegavam telegramas informando o retorno de meu tio de São Paulo. Com a força das águas de um dique que se rompe, foi impossível manter a notícia nos limites do casarão secular. Minha mãe e os outros irmãos souberam da novidade e se alegraram com a iminente visita de um dos caçulas da família. Ele representava a concessionária de veículos Chevrolet de meu avô junto à fábrica em São Paulo e só aparecia em casa uma vez por ano. Saíra adolescente do interior do Maranhão para polir-se no luxo da capital paulista. Adquirira por lá hábitos que causavam estranheza no sertão, entre eles fumar com cigarrilha, usar blazer por cima da camisa e não dispensar chapéus elegantes. Além de desfilar com lindas mulheres em São Paulo — as fotos com elas chegavam amiúde nas cartas noticiando suas turnês pelos pontos turísticos e balneários paulistas, agravando as crises de asma do patriarca, mas enchendo a mãe de orgulho ...