KANT, MARX, NIETZSCHE
Ele deu ao cão o nome Kant; ao gato, Marx. Kant, porque queria o pensador vira-lata, um diógenes estoico. Marx, não soube o porquê. Marx, o mouro, tinha cabelo e barba negros. O gato era amarelo. Marx belo, impetuoso, inimigo de idealistas, espiritualistas, tão chão, e material. Expulso dos lugares onde atuou e autuou os exploradores de homens. O gato, preguiçoso, sem cercas, passeante sobre muros como se calçadas fossem.
Cão e gato se davam bem. Lambiam-se. Mas cada qual no seu prato de ração. Individível. Na fome, não há civilidade que se sustente.
E aí apareceu o sapo. Do nada, não se sabe de onde. Surgiu no jardim, sem convite. Deu a ele o nome Nietzsche. Telúrico? Talvez por isso. Nietzsche tomava banho no pote da água dos dois. Indiferente, cagava ali. De manhã, a água turva. Por que Kant e Marx não se zangavam com ele, não dava para entender. Kant diria para fazer aos outros o que poderia ser uma norma universal de conduta. Se ele caga, eu não cago. Se ele quer a guerra, quero a paz. Tolerâncias! Mas e Marx? Se devo devo usar contra o inimigo as mesmas armas que ele usa?
Marx foi o primeiro assassinado, com veneno que lhe estendeu algum dos vizinhos. Kant foi o segundo, igualmente envenenado. Três dias de agonia e se foi. Nietzsche, não. Sobrevive, solitário, num canto do jardim. E não caga mais no pote de água.
Ele e o sapo aturam-se. Sabe que, se beijá-lo, não terá um chapéu de guizos.
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ResponderExcluirMeu agradecimento aos promotores do blog e outras mídias. Agradecimento ao Ronaldo, Ciro e Sérnio Angelim.
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