Eu e Jamie

 



Li dias atrás um artigo científico
que dizia, e apresentava dados convincentes, que as pessoas estão se deixando ficar mais e mais à frente do computador. E o mais grave não era isso, era o conteúdo consumido, em sua maioria puro lixo digital. Por conta disso, concluía o estudo, as pessoas estão emburrecendo. 

Olhei para o computador e imediato imaginei-o uma bomba-relógio que um dia explodirá e atestei que me tornei um dos zumbis da pesquisa.

Dormi mal várias noites, encucado com o assunto. Quando acordava e me levantava para o café, olhava Jamie, meu cachorro, e imaginava-o caninamente feliz por não ter essas preocupações.

No quinto dia após a leitura, voltei a sonhar. Suara muito e acordei várias vezes na noite aterrorizado com a repetição do mesmo sonho. No sonho, Jamie havia ocupado minha biblioteca, que andava às traças havia muito tempo, e ao tentar desalojá-lo, ele me dizia simplesmente que enfim ela voltara a ter utilidade. E o que andava fazendo? Resolvendo grandes problemas matemáticos. Ri do absurdo e Jamie me enxotava da biblioteca.

Quando acordei do último pesadelo, corri à biblioteca. Jamie não estava lá. Ufa!, foram apenas sonhos ruins, comemorei. Desci as escadas e Jamie estava plácido no tapete. 

Não! Jamie não era um competidor pelo conhecimento. Eu que estava abilolando, dando bolas a tudo que lia nas redes sociais. Festejei intimamente a superação daquela noite ruim. Até provoquei Jamie:

- Escuta essa, Jamie. Sonhei a noite toda que você se tornava cientista, resolvendo o mistério da hipótese de Riemann, aquela equação insolúvel dos números primos. Quanto absurdo, hein?

Quase caí de susto quando ele me respondeu:

- Absurdo nada. Como não é absurdo o que sonhei depois que desci da biblioteca: você latindo e pedindo ração.






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