De onde você é
Perceba que a pergunta não é “onde você nasceu?”. No entanto, insistimos em res-ponder “de onde você é?” falando onde nós nascemos. E não é bem por aí.
Eu, por exemplo, nasci em São Luís (MA), mas nunca morei lá. Adoro dizer que sou ludovicense, mas não sou ludovicense.
Minha primeira infância foi toda no Piauí, em Teresina, 9 anos, e em Parnaíba, apenas 1 bom ano pertinho da praia antes de me mudar para Palmas (TO).
Em Palmas, morei 15 anos direto. Quiquei 7 anos fora, em São Paulo e no Rio, onde frequentemente me perguntavam: de onde você é?
Aí vinha o meu dilema. Eu nunca tinha ido aos Lençóis Maranhenses, nunca vi o Boi da Maioba, logo, não sou maranhense.
Também não podia dizer que era piauiense. É certo que fui em Sete Cidades, comi carne de sol em Campo Maior e já velejei pelo Delta do Parnaíba. Mas eu não sei emular o sotaque único do piauiense, muito menos do teresinense. Para completar, eu nunca fui visitar Niède Guidon na Serra da Capivara.
E tocantinense, eu poderia ser? Também não. Mesmo porque nasci em 1989, e Palmas também, com um intervalo mínimo de apenas 19 semanas entre o nascimento da Sereia do Cerrado e o meu.
Mas hoje, de volta à Palmas e aceitando a ideia de que, na modernidade, mais vale onde você está e não de onde você é, me sinto tocantinense, mas especificamente palmense.
Este ano, 2025, completamos 36 anos, Palmas e eu. Sou palmense, pois não sinto o peso da idade da cidade, como alguém a me ensinar. Palmas é um amigo que juntos superamos a adolescência, nos tornamos o que somos — sem arrependimentos —, e que trilhamos, cada um da sua forma, um dos quatro caminhos de uma rotatória mal sinalizada qualquer.
De onde você é pode ser onde você está. De onde você é é algo a se pensar: de onde você é. De onde eu sou me fez escrever esta crônica. De onde eu sou me faz escrever.
Comentários
Postar um comentário